segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A REVOLTA DE ESCRAVIZADOS NA FAZENDA DA GIRONDA

  

 

 

Por Mauro Luiz Senra Fernandes

 

 

 


UM CASO DE RESISTÊNCIA DO POVO NEGRO EM ALÉM PARAÍBA QUE A MAIORIA DOS ALEMPARAIBANOS NÃO CONHECEM. 

 A resistência dos escravizados foi uma resposta à escravidão que foi uma instituição presente na história do Brasil ao longo de mais de 300 anos.

 Engana-se, porém, quem acredita que os africanos foram escravizados passivamente, pois, apesar da falta de registro, os historiadores sabem que inúmeras formas de resistência dos escravos foram desenvolvidas.

A resistência à escravidão por meio das revoltas, não visava, exclusivamente, a acabar com o regime de escravidão, mas, dentro do cotidiano dos escravos, poderia ser utilizada como instrumento de barganha. Sendo assim, essas revoltas dos escravos buscavam, muitas vezes, corrigir excessos de tirania dos senhores, diminuir o nível de opressão ou punir feitores excessivamente cruéis.

Uma vez terminado o tráfico intercontinental de escravos, a reposição dessa mão de obra estava comprometida, ou melhor, eliminada. Seu preço subiu com rapidez, e nas províncias do sul,  no Vale do Paraíba, a expansão do café exigia dos senhores maior quantidade de trabalhadores, de modo a produzir mais para ganhar mais, sendo o produto perecível e de cultivo delicado. Rapidamente o tráfico inter-regional de escravos tornou-se grande negócio, tanto para quem vendia – pequenos proprietários em decadência –, quanto para quem comprava – donos de grandes faixas de terras e escravarias, que precisavam de mais trabalhadores para aumentar a sua produção.

A Fazenda Gironda adquiriu uma grande quantidade escravos vindos da Província de Pernambuco, que não se adaptaram com a forma como eles eram tratados pelos seus novos proprietários – os Teixeira Leite, em 1874, uma revolta sangrenta aconteceu na propriedade. 

Segundo uma fonte oral, um dos integrantes da família escravocrata foi morto e o teu corpo foi esquartejado pelos revoltosos.

Uma fonte: 

“A frequente reprodução de atentados cometidos por escravos contra a pessoa de seus superiores tem por mais de uma vez preocupado o espírito público, e hoje, em consequência de recentes e lutuosos acontecimentos, está prendendo a atenção de quase toda a imprensa paulista. O assunto é gravíssimo. Não aparece, entretanto divergência de opiniões. Também sabemos, segundo um ofício dirigido à presidência da província de São Paulo, que uma diligência de trinta praças fora enviada para combater grande insurreição de escravos em Bananal, em 24 de dezembro de 1872. No entanto, nenhum indício de insurreição fora encontrado pelos praças, mesmo com as frequentes denúncias dos senhores locais, que havia gerado o envio da tal força policial. Podemos pensar que, quando os praças lá chegaram, os escravos voltaram a trabalhar normalmente, sem que fosse preciso um conflito físico para que a ordem fosse restabelecida? Bem, ao menos fora isso que aconteceu quando dona Maria Guilhermina Cândida Teixeira Leite pediu, em 21 de março de 1874, que as autoridades policiais da província de Minas Gerais a ajudassem a retomar o controle de sua fazenda, chamada Gironda, em São José de Além Parahyba -Mar de Espanha. Seus escravos a haviam expulsado, tomando conta da produção, “desfeitorizando” o trabalho, reescalonando as jornadas, assim como os dias de descanso. As autoridades policiais acharam perigoso demais para a “ordem pública” reprimir com força física tal situação, e queriam evitar que escravarias de fazendas próximas fossem contagiadas por uma “onda negra” de proporções alarmantes. A recomendação, então, foi de que a senhora fosse à fazenda fazer o que pudesse para “encerrar a perigosa insurreição”, acompanhada de pequena escolta local liderada pelo delegado de polícia Joaquim Barbosa de Castro – Barão de Além Parahyba. As instruções eram “que entrasse logo em exercício e entendesse sobre o melhor modo de ser mantida a ordem pública na diligência que este juízo tem de empreender para restituir a posse da fazenda Gironda à dona Maria Guilhermina Teixeira Leite”. Temos a informação de que os senhores de Mar de Espanha já vinham sofrendo com a dominação da atividade produtiva pelos escravos, em algumas fazendas, desde pelo menos 1869, quando 12 escravos controlaram por vários meses, armados, a fazenda Santa Ana da Barra, de um tal senhor Carneiro.” 

Bumerangue Encapsulado – Luiz Alberto Couceiro 









domingo, 14 de novembro de 2021

ALÉM PARAÍBA HISTÓRIA MAURO SENRA - VALORES PERDIDOS

Por Mauro Luiz Senra Fernandes

 

“Uma cidade não é o Homem ou a mulher que passa, a criança estudando, as autoridades no exercício de seus deveres, o operário trabalhando.



Tão pouco é a sua geografia, sua primaveras e verões, as incidentes tempestades e bonanças, a indústria e o comércio que lhe dão movimento e fazendo pulsar e prosperar as instituições profissionais ou recreativas.


O termo “cidade” ultrapassa os limites do que faz no pretérito, misturando glórias e dissabores, heróis e “João Ninguém”, tristezas e alegrias, fama e descrédito, vitórias e derrotas.


Nem mesmo o poder ocasional e temporal confiado às mulheres e aos homens públicos que governam, pela transitoriedade de maior ou menor dos cargos exercidos.


Pois cidade é algo mais duradouro, é a soma de tudo quanto ficou dito e mais alguma coisa, iniciada no instante de sua fundação e formação étnica, atravessando os anos de sua existência, cruzando o presente, continuando enquanto existir pedra sobre pedra, homens e mais mulheres, vida e mais vida. Mas sobretudo, desde que haja fraternidade, amor à terra, discussão construtiva, vontade em servi-la honestamente e desinteressadamente, debate puro e verdadeiro, desprendimento e senso de cidadania e de justiça.”




ALÉM PARAÍBA HISTÓRIA MAURO SENRA - POEMA ALÉM DA ESCRAVIDÃO DE ALICE MARA DE ARAÚJ0 TEIXEIRA CÔRTES

 Por Mauro Luiz Senra Fernandes






ALÉM DA ESCRAVIDÃO

 

Alice Mara de Araújo Teixeira Côrtes

Rio Paraíba,

rio antigo, tempo recuado, tempo que se foi.

Rio passado, passando, passa.

Rio limpo, puro, Puris e Coroados.

Rio encachoeirado, ilhas abraçadas.

 

Portugueses chegam, se achegam

- encanta o canto do sabiá.

Vêem o rio, a mata, o índio Puri.

Exterminam o gentio, derrubam a mata,

fica só o rio: lamento infeliz.

 

Permanecem os brancos colonizadores:

fitam o escravo que chega,

roubado, forçado, escravizado.

Ecoam lamentos na África

no mar, nas Gerais, no Brasil.

 

Aquele que chega é só sombra,

remete-se à memória guerreira tribal;

reage, luta pela liberdade,

encontra-se a ferros, sofrendo no tronco.

 

Desmaia o amanhecer, nesse de Deus;

caminham os escravos em fila,

trabalho, enxada, foice, machado,

derrubam mata, plantam café.

 

Sinhô, Sinhá acordam,

são os donos dos santos, donos da terra,

donos da vida dos escravos.

Falam por eles, matam por ela,

descansam por eles.

 

Negro Congo, palavra escrava,

tinham quase todas as mãos

que trabalhavam no Império;

misterioso, feiticeiro, tornou amigos

Orixás e Santos, transformando-os

em uma entidade só.

 

Mãos servas, voz submissa,

cozinham na casa grande.

Mãos calosas, labutam

nas plantações de café.

 

O Senhor rico compra mais negros,

compra brasão, torna-se barão.

Poderoso entre velas, sedas e rendas

ergue a taça.

 


O negro o machado “alevanta”,

corre a anta, o tatu a onça.

O feitor a chibata levanta,

açoita o negro-rebelde-preguiça.

 

Tarde voltam à senzala cansados.

Senzala lugar das ausências.

Perderam família, liberdade

roubaram-lhes a pátria,

sumiram com seu nome,

batizados cristãos viram João Nação.

 

Já é noite, a lua brilha crescente,

relembrança, herança da África,

negro dança, cantos de banzo,

cantos de saudade, cantos de oração.

 

A fogueira arde, a fumaça se eleva

levando pedidos ao céu.

Batem os atabaques e tambores

bamboleios entrelaçam cadências;

têm rituais a mais

usanças aos Oxalás.

 

Negros batem o pé descalço no chão.

Saravá a Exu,

elevam a cabeça, olhos fechados ao céu.

Saravá aos Oxalás,

levantam os braços ao céu.

Saravá a Iemanjá,

seus olhos se abrem, seus braços

que caem

e clamam: “Até já”

 

Alinhavei, alinhavei, furando os

panos que cobriam a vergonha.

Costurei retalhos negros de presença

em todo o Brasil.

Sou branca e pelos brancos peço: Perdão!...









ALÉM PARAÍBA HISTÓRIA - VITTÓRIO MOSCON - HERÓI DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL EM ALÁM PARAÍBA

 Por Mauro Luiz Senra Fernandes





Vittório Moscon e Amabile Girolami Moscon

Em 1971, o imigrante italiano radicado em Além Paraíba, o Sr, Vittório Moscon foi agraciado pelo Governo Italiano com a condecoração da “Ordem de Vitório Vêneto”, no grau de “Cavalheiro” e as medalhas de Ouro e Bronze pelos serviços de guerra prestados na Primeira Grande Guerra ao Exército Italiano.

O diploma e as medalhas foram entregues pela Embaixada Italiana no Rio de janeiro e, em comemoração, foi reunida toda a família Moscon.

Vittório Moscon nasceu em Treviso (Vêneto), norte da Itália, em 7 de dezembro de 1894. Era filho de Giuseppe Moscon e Luigia Feletti Moscon e lá trabalhou na Fabrica de Papel Cartiera Reali até a época de servir o exército.

Quando estava terminando esse período, iniciava-se a Primeira Guerra Mundial – 1914/1918 – e novamente foi convocado para as fileiras do Exército Italiano, servindo na infantaria de 25 de março de 1915 até 8 de janeiro de 1919. Participou de várias batalhas, tendo numa delas ficado ferido e, em outra sido feito prisioneiro, ocasião em que perambulou pela Europa Central como trabalhador prisioneiro.
Terminando a guerra, voltou a trabalhar na indústria papeleira italiana, época em que realmente definiu a profissão que abraçaria e que permitiu que se candidatasse no Consulado a uma vaga na emigração para o exterior, como técnico. Trabalhou em diversas fábricas de papel em máquinas contínuas de 1919 até 15 de setembro de 1924, quando emigrou para o Brasil.

Casou-se ainda na Itália com Amabile Girolami Moscon, filha de Gino Girolami e Juseppinna Sacali, em 7 de março de 1924.

Chegando ao Brasil, foi para a cidade fluminense de Mendes, onde trabalhou até 1930, ocasião em que se transferiu para Além Paraíba. Em Mendes nasceram os filhos: Ormes Moscon, engenheiro da “Companhia Siderúrgica Nacional”, foi casado com Afife Verdini Moscon; e Otelina Moscon Puntel, foi casada com o industrial Sócrates Ricardo Puntel.

A família se adaptou bem em terras alemparaibanas, vivendo um período de muita felicidade, sendo aumentada com a chegada do terceiro filho: Antônio Oswaldo Moscon engenheiro na cidade de Salvador, Bahia, casado com Marinice Braga Moscon.

A partir de 1933, Vittório Moscon recebeu diversos convites para ir trabalhar no exterior: México, Uruguai e, principalmente, para a Argentina. Porém, uma oferta de um contrato mais generoso por parte do então presidente da S.A. Fabrica de Papel Santa Maria, o também italiano José Mercadante, evitou que mais um deslocamento acontecesse. Em seu lugar, foi para a Argentina o primo Arturo Moscon, que mais tarde levou para lá sua mãe e o irmão Pedro, tendo ficado na Itália o irmão Ricardo.

A Fábrica de Papel Santa Maria prosperava, melhorando a qualidade do produto industrializado e também a quantidade produzida pela compra da segunda máquina em 1937. Nasceu, então, a quarta filha do casal: a Professora Luigia Joseppina Moscon Ribeiro, que foi casada com Nilson Joaquim Riberio.

Em 1940, a fabrica monta a sua máquina Nº 3, aumentando ainda mais a produção e proporcionando mais desenvolvimento. Neste ano nasceu sua última filha, Maria José Moscon Faria, casada com o desembargador Dr. Francisco Eugênio Rezende de Faria.

Por lei da Câmara Municipal de Além Paraíba, Vittório Moscon recebeu o título de cidadão alemparaibano, o que aumentou ainda mais o orgulho de ter escolhido Além Paraíba como sua segunda pátria e aqui permanecesse até a sua morte, no dia 25 de abril de 1983.

Hoje essa condecoração da “Ordem de Vitório Vêneto”, no grau de “Cavalheiro” e as medalhas de Ouro e Bronze pelos serviços de guerra prestados na Primeira Grande Guerra ao Exército Italiano, está com o neto que herdou o teu nome Dr. Vittório Monscon Puntel, competente cardiologista no município  de Volta redonda RJ. 



ALÉM PARAÍBA HISTORIA MAURO SENRA - DONA CARLOTA MIRANDA MANSO MONTEIRO DA GAMA

 Por Mauro Luiz Senra Fernandes



      “Uma mulher já é bastante instruída quando lê corretamente a receita de goiabada. Mais do que isso seria um perigo para o lar” (Charles Expilly, cronista francês, aproximadamente em 1897).

        A mulher era educada para o matrimônio e a maternidade.  Uma mulher era a embaixatriz da família, digníssima esposa e formadora de grandes homens, que eram os filhos. Esse era o pensamento que regia a sociedade brasileira e alemparaibana no fim do século XIX. Nesse mesmo contexto existiam mulheres que se sobressaiam em nossa sociedade pela força, inteligência e dinamismo em suas atividades e D. Carlota Miranda Manso Monteiro da Gama foi uma dessas mulheres, constituindo uma família de grandes cidadãos, possuindo inúmeras virtudes.

        A história de sua família se mistura com a história de Minas Gerais. Era trineta do vice-presidente da província, nomeado presidente em 1850, Romualdo José Monteiro de Barros, o Barão de Paraopeba, senhor de grandes propriedades e de riquíssima lavra mineral em Congonhas do Campo. Sua bisavó era D. Ana Ricarda Marcelina de Seixas, irmã de D. Maria Dorothéa Joaquina de Seixas, a Marília de Dirceu, musa inspiradora do poeta inconfidente Thomas Antônio Gonzaga, e sobrinha-neta do primeiro comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais, o Cel. Francisco de Assis Manso da Costa Reis. Era neta, do lado paterno, do Tenente-Coronel José Maria Manso da Costa Reis e de D. Francisca de Assis Monteiro de Barros Galvão de São Martinho. Do lado materno, seus avós eram o Cel. José Cesário Monteiro Miranda Ribeiro e de D. Maria Custódia Monteiro Nogueira da Gama.

        D. Carlota nasceu na Fazenda do Bom Destino, distrito de Providência, no dia 29 de julho de 1872, e era filha do alferes Bernardo Manso Monteiro da Costa Reis e de sua primeira esposa D. Maria José Monteiro de Miranda Manso. Seus irmãos: Américo Manso da Costa Reis, casado com a prima D. Francisca da Costa Reis; Dr. João Maria Miranda Manso, casado com D. Adelaide Elisa de Souza; e, do segundo matrimônio de seu pai, Braziel Manso da Costa Reis, casado com D. Zilda Ribeiro de Castro Manso.

        Casou-se no dia 09 de setembro de 1893, na Fazenda da Conceição, na Vila de Angustura, com seu primo o Major Sebastião Monteiro Nogueira da Gama, que nasceu em 11 de agosto de 1867, filho do Major Romualdo Baptista Monteiro Nogueira da Gama e de D. Maria Custódia Monteiro Nogueira da Gama. Seu esposo era neto, do lado paterno, do Dr. João Baptista Monteiro de Barros (terceiro filho do Barão de Paraopeba) e de D. Maria do Carmo Nogueira da Gama. Do lado materno, era neto de Francisco Xavier Monteiro Nogueira da Gama e de D. Ana Maurícia do Carmo.

        D. Carlota e o Major Sebastião da Gama tiveram os seguintes filhos:

Romualdo Baptista Monteiro Nogueira da Gama, que foi Agente da Estação Ferroviária de Trimonte, casado com a prima D. Carmem Nogueira da Gama, filha de Braz Monteiro Nogueira da Gama e D. Alda Augusta da Gama Monteiro de Barros;

Oswaldo Mauro Monteiro Nogueira da Gama, que foi Coletor Estadual, casado com D. Sophia Fernandes, filha de Antônio José Fernandes e D. Emiliana Maria Fernandes;

Arnaldo Manso Monteiro Nogueira da Gama, Tenente da Força Pública em Barbacena, casado com D. Nila Martins Maia, filha de Manuel José Martins e de D. Carolina Rosa Antunes Martins;

Bernardo Manso Monteiro Nogueira da Gama, que faleceu solteiro;

Nivaldo Manso Monteiro Nogueira da Gama, produtor rural em Angustura, casado com D. Maria do Carmo Teixeira da Gama;

Dr. Reinaldo Manso Monteiro Nogueira da Gama, médico e respeitado político em Além Paraíba, casado com D. Eunice Côrtes de Araújo, filha de Antônio Domingues de Araújo e D. Maria Guilhermina Teixeira Côrtes;

D. Celanira Manso Monteiro Nogueira da Gama, professora e inspetora da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais, que ainda vive em Além Paraíba;

Agnaldo Manso Monteiro Nogueira da Gama;

Everardo Manso Monteiro Nogueira da Gama;

D. Eleonora Manso Monteiro Nogueira da Gama, que faleceu solteira; e

D. Alaíde Manso Monteiro Nogueira da Gama.

D. Carlota foi uma mulher piedosa e profundamente religiosa. Fez parte da Irmandade de São José e do Apostolado da Oração, tendo um coração boníssimo onde perdurava viva a imagem querida de seu falecido marido. Faleceu em 30 de maio de 1948, causando profundo pesar em todo o município de Além Paraíba e região. A Câmara Municipal, que era presidida por seu filho Dr. Reinaldo Gama, homenageou a memória da ilustre senhora, e em seu sepultamento, no Cemitério de Angustura, estiveram presentes, além de grande parte da população, inúmeras autoridades municipais e estaduais.


quinta-feira, 9 de julho de 2020

ALÉM PARAÍBA HISTÓRIA MAURO SENRA - HONORATA FERNANDES E AMBROZINA FERNANDES DE SOUZA – MULHERES DE FIZERAM PARTE DA HISTÓRIA DE ALÉM PARAÍBA


Por mauro Luiz Senra Fernandes



Poucas mulheres e ainda tão poucas representantes da raça negra tiveram a notoriedade no inicio do século vinte em Além Paraíba como Honorata Fernandes, conhecida com “Sá” Honorata.

Nasceu em São Manoel MG no ano de 1853, vindo para Além Paraíba em 1904, juntamente com seu marido, o ferroviário Germano Fernandes, exercendo uma função sagrada que lhe proporcionou muito respeito e afeto entre as famílias alemparaibanas. Parteira das mais conhecidas, citada em vários textos do historiador Octacílio Alves Coutinho, “Sá” Honorata fixou residência no Morro da Conceição com seu esposo e os filhos: Ambrozina, Amélia, Germano e Genesínio.

Foi considerada a segunda “mãe” de grande números de alemparaibanos, uma mestra na função de parteira, inclusive respeitada por médicos que não criavam obstáculos no desempenho de seu trabalho. A cada momento, dia ou noite, tempestuoso ou calmo, era chamada em sua resid~encia, sempre pronta para auxiliar uma parturiente e colaborar com a vida de mais um alemparaibano ou alemparaibana.

“Sua presença era sinal. O sinal que as crianças eram privadas de assistir. Na casa era aquele movimento, ocorria ao perfume dos defumadores, roupas impecavelmente brancas e desinfetadas em enormes latas d’água fervente ou em tachos de bronze, espalhando vapores por toda parte. E latas de marmelada entravam a cada momento no quarto e pratos de canja de galinha que serviam  de alimento a futura mamães” Octacílio Coutinho.

“Sá” Honorata faleceu em 1951, aos noventa e oito anos, deixando saudades daqueles que lhe tinham gratidão.

A continuidade ao trabalho de Honorata Fernandes foi seguido por sua filha Ambrozina, que também nasceu em São Manoel, no dia 8 de outubro de 1901. Ambrozina estudou no Liceu Operário e trabalhou na Companhia Industria de Além Paraíba (CIAP), sendo a primeira mulher a exercer o cargo de tecelã naquela importante empresa alemparaibana.

Como parteira seguidora dos passos da mãe, também se destacou e trazia com ela o orgulho de não  ter dito nenhum óbito em suas mãos. Exerceu a sagrada função até a idade de 75 anos, passando a seguir a somente orientar as mães alemparaianas que procuravam como agir nos banhos dos rebentos e na cura do umbigo.

"Sá"Honorata e o grande amigo admirador Jarbas Neto 

 Germano Fernandes

 Ambrozina Fernandes de Souza

sexta-feira, 29 de maio de 2020

NAVIO NEGREIRO - AUTOR E MUSICA DE KLEBER FERNANDES DE SOUZA "TEQUINHO"




Por Mauro Luiz Senra Fernandes




Quando o navio partiu
Os pretos velhos começaram a rezar
legião de negros como a noite
era um cenário de terror
No bojo de orucungo estava o rei
até Iemanjá chorou.

Chegamos em Vila Rica
tive a razão que a solidão formava
O ouro brotava na terra
Eu vi o meu povo condenado
Com lágrimas nos olhos eu jurei
esses jamais serão escravos.

Ô gozunga lá no Congo
agora sinhá quer vê
Tira ginga o preto velho
e entra no gingue-rê, ô sinhá.


Inspiração: "Navio Negreiro" de Castro Alves
Escola de Samba União da Colina - anos 70 - Além Paraíba - Minas Gerais